"MÓVEIS CRIADO POR BERNARDO FIGUEIREDO NOS ANOS 60, CONSIDERADAS PEÇAS DE COLECIONADOR, GANHAM REEDIÇÃO
Sentado numa cadeira que tem a sua assinatura, no pequeno apartamento de dois andares onde vive, no bairro de Jacarepaguá, o arquiteto e designer Bernardo Figueiredo, de 77 anos, afirma com convicção: "Os anos 60 foram incríveis para mim." Foi durante essa década que ele desenhou e fabricou mais de 50 peças que revolucionaram omobiliário brasileiro, a lado das criações de seus contemporâneos Sergio Rodrigues, Joaquim Tenreiro e Jorge Zalszupin. algumas delas, inclusive, foram decorar o Itamaraty, em Brasília (e, aliás, continuam decorando). Bernardo ainda destaca uma separação, duas viagens e uma prisão ocorridas nos duros anos de repressão política.
O anos de 2011 também tem tudo para fazer parte dos períodos memoráveis de sua vida. é que depois de meio século, os móveis de Bernardo - um nome desconhecido para quem não viveu aquele tempo - estão sendo reeditados. No total, sete foram lançados no início do mês de agosto no Salão Casa Brasil, em Bento Gonçalves, no Rio Grande do Sul, e acabm de chegar a lojas como Arquivo Contemporâneo, no Rio, e Dpot, em São Paulo. O estilo remete imdiatamente à época: muita madira, palhinha e pés fininhos.
Todos os seus desenhos foram entregues à Schuster, fábrica gaúcha responsável pelo revival. E nada foi feito com a ajuda de programas sofisticados de computador. Rabiscos do designer e algumas fotos que ele guarda das criações originais foram reunidos para dar forma aos móveis. Coube à fábrica selecionar e produzir a reedição. Como só existiam peças de época, seus móveis tinham status de artigo de colecionador.
Formado em 1957 pela Faculdade Nacional de Arquitetura, Bernardo começou a fazer alguns rabiscos de móveis quando trabalhava como recepcionista da Oca, lendária loja de Sergio Rodrigues, em Ipanema, e entre uma onda e outra que pegava no Arpoado. Ele chamou um marceneiro e começou a dar forma a alguns daqueles seus desenhos, enchendo sua casa com as peças. Um dia, a amiga e figurinista Calma Murtinho, que nos anos 60 tinha uma loja em Copacabana, viu sua produção caseira e levou parte dela. A partir daí, o carioca começo a ficar conhecido e passou a vender ("sem nota fiscal", como lembra).
No fim da mesma década, Bernardo recebeu a visita do então Embaixador e Ministro Wladimir Murtinho, que cuidava na época da transição do Ministério das Relações Exteriores do Rio para Brasília. ele queria que o designer desenhasse alguns dos móveis do Palácio dos Arcos, projetado por Oscar Niemayer e inaugurado em 1970. Desafio aceito, ele roduziu grandes sofás e poltronas. Alguns deles com tamanhos mais residenciais, foram incluídos na reedição de agora, como a poltrona Ipanema e o sofá Conversadeira. entre os móveis relançados, há ainda a poltrona Rio, o sofá Deck, a cadeira Bahia, dentre outros.
Bernardo chegou a abrir seu próprio estúdio de design naqueles temps, o Desenho Brasileiro, mas parou de se dedicar aos móveis nos anos 70, fechando assim um ciclo. Segundo ele, "Mudo muito de atividade. Quando começa a trazer chateação, eu paro. Percebi naquela época que precisava expandir, abrir uma fábrica, estavam começando a copiar. Não queria isso."
Depois da fase "móveis", o arquiteto se dedicou aprojetos de feiras de exposição internacionais e depois largou tudo para morar em Cabrália, no Sul da Bahia, onde comprou uma pequena fazenda e viveu por cinco anos. Mais recentemente, especializou-se em arquitetura de shoppings. O original Barrashopping, inclusive, é assinado por ele. Agora, Bernardo fecha mais essa etapa para reabrir outra."
Matéria publicada na parte de Decoração da Revista O Globo, de 21 de agosto de 2011.
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